O incremento em investimentos para adaptação e mitigação climática parece cada vez mais ameaçado em meio às demonstrações de que o aquecimento global e seus efeitos deletérios não desaceleram, mas sim avançam em velocidade alarmante.
Para se ter uma noção exata: o ano de 2024 foi, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o ano mais quente já registrado na história, com média de 1,55 °C acima dos níveis pré-industriais. Além de dados concretos, não são poucas as notícias que apontam para o colapso de um já incipiente esforço mundial coordenado para aceleração da transição energética e obtenção de financiamento climático. A eleição do presidente dos EUA, Donald Trump, e sua guerra tarifária, empurra os mais variados entes da economia mundial a diminuir ou interromper os aportes em energias limpas, priorizando, ao menos no curto prazo, os retornos previsíveis (e poluentes) dos combustíveis fósseis e investimentos em defesa. Outro grave sinal de enfraquecimento do esforço mundial para atingimento das metas climáticas é a debacle da Net Zero Banking Alliance (NZBA), iniciativa apoiada pela ONU para que bancos e instituições financeiras alinhem suas carteiras de investimentos e empréstimos com o compromisso de emissões líquidas zero de gases de efeito estufa até 2050. Desde de dezembro de 2024, seis grandes bancos (Citigroup, Bank of America, Morgan Stanley, Wells Fargo e Goldman Sachs) abandonaram o grupo em resposta ao contexto geopolítico, principalmente no anseio de se alinhar à política anti-climática de Trump e contar com vantagens competitivas.
A ocorrência de eventos extremos em maior frequência e magnitude dão, de forma triste e por vezes irreparável, a dimensão exata da urgência de investimentos em medidas de adaptação e mitigação
Dentro desse contexto, a discussão sobre fontes e destinos dos fluxos financeiros globais para ações de mitigação e adaptação climática está em evidência e merece atenção. No entanto, entre números e termos incompreensíveis, a principal matemática deveria ser aquela cujas variáveis de interesse sejam o bem estar de comunidades e a proteção de ecossistemas. A ocorrência de eventos extremos em maior frequência e magnitude dão, de forma triste e por vezes irreparável, a dimensão exata da urgência de investimentos em medidas de adaptação e mitigação. Os exercícios financeiros e econômicos deveriam focar na quantificação das perdas e danos causados por tais eventos e contrapô-las a cenários de não-ação. A aparente não sensibilização de atores influentes sobre essa “tragédia dos comuns” impele à procura de alternativas que alterem o presente cenário de omissão e irresponsabilidade de governos e empresas.
Uma alternativa é a utilização de métricas financeiras e econômicas que levem em conta o investimento necessário para “blindar climaticamente” projetos de infraestrutura, planos diretores ou iniciativas setoriais, contrastando-as com as perdas sociais, ambientais e econômicas em caso de eventos climáticos extremos. Ainda que a “linguagem do dinheiro” possa servir de instrumento de mobilização, o entendimento de que os impactos das mudanças climáticas recaem em maior grau sobre a população pobre e vulnerável não pode ser esquecido, mas sim reafirmado nos mais diversos fóruns. Tal abordagem poderia aumentar o poder de resolução nas mesas de negociação em que os participantes comumente têm interesses incompatíveis, mesmo que não ditos.
Como alento que atende as questões apresentadas até aqui está a iniciativa do Brasil em lançar, na COP 30 em Belém, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forest Forever Facility – TFFF, na sigla em inglês). Em linhas gerais o TFFF pretende remunerar países em desenvolvimento que conservam suas florestas tropicais, destinando o capital investido a ativos verdes e aplicando o retorno para manter as florestas de pé. Mesmo não imune a críticas, como por exemplo a de vincular a proteção florestal ao desempenho de mercados financeiros imprevisíveis, a proposta mostra como um olhar franco aos problemas reais, aliado a uma arquitetura financeira no mínimo inovadora e audaciosa, podem dar um novo frescor e esperança à batalha contra os efeitos das mudanças climáticas.

