Recém-lançado pela Fundação SOS Mata Atlântica, o estudo Observando os Rios, traz resultados preocupantes com relação à qualidade dos cursos d’água monitorados pela Fundação entre janeiro e dezembro de 2024. Os trabalhos de coleta e análise das águas dos rios da Mata Atlântica, mostraram que, a despeito dos esforços para universalização do tratamento de esgoto até 2033, a degradação dos recursos hídricos não arrefeceu. Segundo os dados apresentados, mais de 75% dos pontos monitorados ao longo de 14 estados brasileiros (onde a Mata Atlântica ainda persiste) apresentam qualidade regular, enquanto cerca de 15% apresentam qualidade ruim ou péssima. Vetor importante para manutenção desse quadro crítico é justamente a falta de cobertura da rede de coleta e tratamento de esgoto. No Brasil, cerca de 35 milhões de pessoas ainda não contam com acesso à água potável e quase metade da população tem seu esgoto despejado em cursos d’água, sem qualquer tratamento. A correlação entre qualidade da água dos rios e cobertura da rede de coleta e tratamento de esgoto fica patente ao se analisar o estudo.
Mesmo com a aceleração dos investimentos, via entrada de entes privados, em coleta e tratamento de esgoto a partir do Marco Legal do Saneamento Básico (Lei nº 14.026/2020) a falta de implementação de políticas públicas abrangentes e articuladas e a necessidade de aportes financeiros expressivos fazem com que a meta de universalização pareça distante.
O desafio para o setor público e privado é maior ainda devido aos efeitos negativos das mudanças climáticas
Não obstante as dificuldades elencadas acima, o desafio para o setor público e privado é maior ainda devido aos efeitos negativos das mudanças climáticas. Estudo do Instituto Trata Brasil, lançado em 2024, se dedica a analisar, com projeções até 2050, como secas, ondas de calor e tempestades podem impactar o saneamento básico no Brasil. Além de ameaçar a infraestrutura físicas das companhias de abastecimento de água e tratamento de esgoto, os riscos climáticos agudizam as desigualdades de acesso a esses serviços fundamentais.
Atendo-se à análise de como os eventos extremos supracitados afetam o setor, o estudo elenca os principais riscos, e seus efeitos correlatos: tempestades (potencial aumento dos sedimentos em mananciais, sobrecarga nos sistemas de drenagem e tratamento e consequente alagamento, rompimento de tubulações e contaminação de fontes de água), ondas de calor (diminuição da vazão de cursos d’água, potencial aumento da demanda de energia e de contaminação e pressão sobre os sistemas de abastecimento) e secas (diminuição da disponibilidade hídrica, uso de fontes hídricas com menor qualidade e limitação de acesso aos serviços de saneamento básico e consequente aumento do risco de transmissão de doenças).
Os dois estudos mostram que o colossal desafio que o Brasil enfrenta para fornecer água potável à sua população e fazer com que seu esgoto seja coletado e tratado adequadamente é ainda maior pela premente necessidade do poder público e privado adotar estratégias de adaptação climática. Além de uma gestão integrada dos recursos hídricos que conte com espaço para ações de conservação e reúso da água, é necessário que os investimentos futuros foquem no fortalecimento da infraestrutura de captação e tratamento, em sistemas de monitoramento e automatização e em plataformas que gerenciem os riscos climáticos a que os ativos estão expostos.

