Parece não ser novidade o título da presente publicação, porém há grande espaço para ampliar o entendimento da sociedade, governo e principalmente do setor produtivo agrícola sobre a importância e especificidades da relação água-agricultura.
Segundo dados de 2019 da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), os usos setoriais (aqueles que retiram e consomem água diretamente) correspondem a 70% do uso da água no Brasil. Desse percentual a irrigação na agricultura é responsável por 49,8% da água consumida. Tal avaliação exclui o uso direto da água de chuva no manejo de plantações, dando a dimensão da importância do setor dentro do panorama de gestão de recursos hídricos no Brasil.
Aumentar a área total irrigada no Brasil sem comprometer os recursos hídricos pode parecer uma tarefa desafiadora, mas deve ser encarada como um objetivo para o benefício tirar ponto
Tendo em vista a grandeza e peso do setor agrícola na balança comercial brasileira, a despeito dos esforços para aumento da industrialização nacional em um cenário geopolítico e econômico desafiador, o investimento privado e suporte governamental se fazem indispensáveis, principalmente em ações que ataquem os “problemas ocultos”.
Um desses problemas é a racionalização do uso da água na agricultura em suas múltiplas atividades. Desde a diversificação das fontes de água, passando pelo emprego de técnicas de irrigação localizada e investimento em infraestrutura hídrica, chegando ao aumento das práticas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), a potencialidade de otimização do uso da água e aumento da produtividade é considerável. O desenvolvimento desse tema passa necessariamente pela conscientização financeira e política do setor produtivo na adoção de práticas sustentáveis, focando no cumprimento de requisitos regulatórios nacionais e estrangeiros (como as exigências constantes no acordo Mercosul-Europa), nas ações para mitigação de riscos climáticos (severamente nocivos ao setor agropecuário) e no incremento das análises de retorno de investimento que priorizem a adoção de sistemas focados na eficiência hídrica e energética. No campo das políticas públicas é notória a necessidade de investimentos em infraestrutura hídrica e incentivo e fortalecimento de práticas simples, a nível municipal e estadual, que aprimorem o gerenciamento dos recursos hídricos (exemplo disso são a construção de “barraginhas”, que retém e acumulam água em época de grande pluviosidade, auxiliando na recarga de aquíferos e manutenção de reservatórios superficiais).
Mantendo o foco de análise apenas na questão da irrigação, o potencial de expansão mercado e do aumento da eficiência focada na preservação ambiental fica evidente nos dados fornecidos pela Atlas Irrigação – Uso da Água na Agricultura Irrigada (2ª Edição – 2021) publicado pela ANA. Segundo o documento estima-se que até 2040 sejam incorporados 4,2 milhões de hectares irrigados no Brasil, representando um aumento de 76% frente a atual área de 5,3 milhões de hectares irrigados. No entanto, o impacto sobre a expansão do uso da água será menor, com um crescimento de 66%, devido à tendência de adoção de métodos mais eficientes. Essa simples previsão mostra a importância do investimento em práticas tecnológicas que aumentem a eficiência do setor e promovam a proteção ambiental com foco na mitigação das mudanças climáticas. Aumentar a área total irrigada no Brasil, sem comprometer os recursos hídricos, pode parecer uma tarefa difícil, mas não deveria ser novidade para ninguém.

